O início da maior pandemia em um século, que resultou em uma fuga de capitais do país no primeiro semestre, levou o dólar a quebrar sucessivos recordes ao longo de 2020.
Em sua maior cotação do ano, a moeda bateu em R$ 5,972, algo inimaginável em 2019, quando o dólar ainda era cotado a R$ 4. Para o próximo ano, as estimativas do mercado são que o dólar caia, mas não para os níveis do ano passado.
A expectativa é que alguns dos fatores que ajudaram a derrubar o dólar de R$ 5,70, do início de novembro, para a casa dos R$ 5,20 sigam presentes no início do próximo ano.
Entre eles estão os planos de vacinação que prometem enfraquecer a pandemia e a eleição de Joe Biden, que irá assumir a presidência dos Estados Unidos em janeiro.
“O presidente Biden deve induzir a um menor nível de aversão a risco global, o que favorece o desempenho de moedas emergentes, inclusive o real. O Biden é um estadista mais previsível [que o Donald Trump] e menos errático em algumas questões com a China”, afirma Alejandro Ortiz, economista da Guide, que projeta o dólar a R$ 4,90 no fim de 2021.
Desde o começo de novembro, quando a vitória de Biden foi definida, investidores estrangeiros colocaram R$ 50 bilhões na bolsa brasileira, depois de terem tirado mais de R$ 65 bilhões nos primeiros dez meses do ano.
Situação Fiscal Pode Influenciar no Dólar
Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual Digital, acredita que o real deve seguir se beneficiando desse fluxo internacional nos primeiros meses do ano, mas vê a possibilidade de nada disso ser suficiente para derrubar o dólar se o país não conseguir endereçar a questão fiscal.
“Se enumerar, há muitos mais fatores que contribuem para a apreciação do real, mas o peso daquilo que pode depreciar, que é o fiscal, é muito significativo”, afirma.
Embora haja discordâncias no mercado sobre em qual patamar o dólar deve encerrar o próximo ano, a questão fiscal é tida com unanimidade como o maior desafio para o real ganhar força.
No boletim Focus, principal pesquisa com analistas de mercado, a mediana das projeções para o dólar no fim do ano que vem aponta para R$ 5.
Ao menos para o Santander, no entanto, que ficou no top 5 do Ranking Focus de projeções da taxa de câmbio de longo prazo, a moeda deve encerrar 2021 abaixo de R$ 5.
Com previsão de dólar a R$ 4,60, Jankiel Santos, economista sênior e responsável pelo setor externo do Santander, acredita em alguma melhora da questão fiscal no próximo ano.
“Não porque estejamos otimistas com o avanço de reformas, mas o risco [de um descontrole fiscal] é tão grande que o país vai ter que dar um passo para trás antes de cair do precipício”, diz.
Questões Sociais e Políticas Também Influenciam
Mais pessimista quanto ao controle de gastos do governo e ao avanço de reformas, André Perfeito, economista-chefe da Necton, vê o dólar encerrar o próximo ano em R$ 5,10.
“O corte de gastos que está sendo proposto será muito difícil de fazer em 2021. Haverá mais pressão por gastos, dado que terá mais demanda pelo setor público. Imagina a quantidade de pais que vão precisar tirar seus filhos da escola particular e colocar na pública. E esse é só um exemplo”, afirma.
Perfeito também prevê uma disputa política mais acirrada em Brasília, com enfraquecimento do governo e consequente piora do ambiente para reformas.
“A popularidade do presidente [Bolsonaro] hoje depende muito das classes mais baixas devido ao auxílio emergencial. Se não tiver mais auxílio e todo mundo que está fora voltar para a força de trabalho, o desemprego vai para 24%”, diz o especialista.
E Como Investir Com Dólar em Tendência de Queda?
A tendência de baixa no câmbio pode abrir uma janela de oportunidade para quem deseja ter uma parte da sua carteira alocada em ativos ligados ao dólar. Isto garante uma correta diversificação e protege os investimentos de choques internacionais.
O fator proteção vem do fato de que os investidores de todo o mundo enxergam o dólar como um dos ativos mais seguros do mundo. Por isso, quando uma crise derruba todos os mercados, como no caso do que ocorreu com a gerada pelo novo coronavírus (Covid-19), o dólar tende a se valorizar.
Vale a pena lembrar: no entanto, que os ativos atrelados ao dólar devem corresponder a uma pequena parcela de sua carteira de investimentos. Não é recomendado, como se diz na economia, colocar “todos os ovos na mesma cesta”.
Para você se diversificar e se expor ao dólar, há as seguintes possibilidades de investimentos:
COE
O Certificado de Operações Estruturadas (COE) é uma versão brasileira das chamadas Notas Estruturadas, bastante populares nos Estados Unidos. É um tipo de aplicação que une a segurança da renda fixa com a rentabilidade da renda variável.
Ele é indicado para quem está começando a investir no exterior e ainda está receoso a respeito.
E tem uma vantagem muito interessante: a maioria dos COE têm capital protegido. Isto quer dizer que o investidor recebe de volta todo o valor investido, mesmo que ocorra uma perda no investimento.
O COE pode estar atrelado a ações nacionais e estrangeiras, índices da bolsa brasileira e das bolsas americanas. E também a taxas de juros, commodities, e moedas. E a combinação destes ativos garante segurança, ao mesmo tempo em que busca mais lucratividade.
Fundos de Investimento
Também indicado para os investidores menos experientes no mercado externo, os fundos de investimento internacional trazem a vantagem de contar com gestores que acompanham e definem as melhores opções.
Você pode optar por fundos de ações, mais agressivos, ou fundos multimercado, que são mais seguros por diversificar os investimentos.
ETFs
Também é possível investir, a partir do Brasil, em fundos de índice (ETFs) que replicam ativos internacionais.
BDR
O Brazilian Depositary Receipt (BDR), ou certificado de depósito de valores mobiliários, permite investir diretamente em empresas norte-americanas pelo mercado brasileiro.
Desde 22 de outubro de 2020, os BDRs estão disponíveis na bolsa brasileira para todo investidor interessado. Até então, eles eram reservados apenas para investidores qualificados, ou seja, aqueles com mais de R$ 1 milhão em investimentos.
A vantagem é que, ao adquirir um BDR, o investidor passa a deter, indiretamente, papéis da companhia com sede em outro país. Sem que para isso tenha que realizar os trâmites de um investimento internacional.
Dólar Futuro
É importante ressaltar que esta forma de investimento é de alto risco e exige maior preparo do investidor.
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O investidor pode assumir uma posição de compra ou de venda do contrato futuro da moeda. Quem assume a posição comprada do contrato, ganha com a alta do dólar e perde com a queda. Se a posição for de venda, o investidor ganha com a queda do dólar e perde com a alta.
Esta negociação ocorre na B3 e exige que o investidor tenha uma conta em uma corretora de valores para operar. Trata-se de um mercado muito volátil e de alta liquidez.
No mercado de dólar futuro pode-se operar de forma alavancada. Isso significa que com um montante pequeno de dinheiro é possível movimentar grandes quantias. Ou seja, é possível ganhar muito mais do que o valor investido, mas o tombo também pode ser grande.