Muitas pessoas não conseguem compreender como o câmbio pode impactar de forma tão decisiva em vários setores da economia nacional. Das mais simples operações ao caixa das empresas. O dólar alto é um verdadeiro desafio.
Nesse sentido, muita gente não está preparada quando a moeda norte-americana afeta os rendimentos.
A prova disso é o recente levantamento do Centro de Estudos do Mercado de Capitais (Cemec/Fipe), que mostrou um fator preocupante.
O endividamento corporativo do Brasil em 2020 chegou a R$ 4,3 trilhões.
Isso equivale a 60,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O estudo se baseou em dados do fim do mês de agosto e tem como instrumento de análise apenas empresas não financeiras.
O aumento foi de 9,3 pontos percentuais em relação a novembro do ano passado, quando o índice apontava 51,2% do PIB nacional. A análise começou a ser feita em 2000.
Naquele ano, o indicador de endividamento estava em 34,9% em relação ao PIB. O crescimento foi gradual.
Todavia, nem mesmo em momentos de grave crise econômica no país, como em 2015, quando o dólar subiu 48% em relação ao real, o patamar esteve igual ao registrado em 2020. Na ocasião, o índice foi de 57,7%.
E é aí que respondemos ao título dessa matéria. Pois de acordo com análise dos pesquisadores, 70% da motivação dessa alta se deve à variação cambial registrada em 2020.
Segundo o Cemec/Fipe, 25% das empresas avaliadas não possuíam nenhum tipo de proteção contra a alta da moeda norte-americana. Vulneráveis, os empresários se viram em uma corrida para o fortalecimento de caixa, recorrendo a alguns mecanismos, como empréstimos.
Essa situação é extremamente crítica, pois há ainda o o risco das empresas não conseguirem se recuperar em 2021 e ficarem impossibilitadas de honrar com os empréstimos contraídos, gerando uma verdadeira bola de neve.
O dólar, por sua vez, segue em seu círculo de variação constante, condicionado a inúmeras situações que acalmam, dentre elas a vacina contra a Covid-19, ou agitam o mercado, como o aumento de casos do novo coronavírus pelo Brasil e ameaça de novas medidas restritivas para conter a propagação da doença.
Como a Alta do Dólar Pesa no Meu Bolso?
A alta do dólar puxa a inflação do país para cima. O impacto na cadeia é sentido primeiramente na renda da classe média. Boa parte das matérias-primas brasileiras são importadas.
Como consequência da alta do dólar, diversos itens do cotidiano do brasileiro acabam tendo os preços reajustados.
Não se enganem. Pois a reação é em cadeia.
Vai do nosso pãozinho, passando pelo macarrão até atingir as bombas dos postos de combustível. Como assim? O nosso pãozinho? Pois, sim. O trigo, que é um insumo básico para a produção dos pães, é importado.
Mas não são só as matérias-primas importadas que sofrem com essa variação. Os itens que são produzidos dentro do Brasil acabam impactados, como o café, soja, açúcar, carne e milho. A lógica é muito simples.
Com o dólar em alta, o produto mais caro dentro do próprio Brasil faz com que o produtor receba mais por ele do que ao exportá-lo.
No fim, isso chega ao caixa das empresas, que como mostramos, não está preparado para lidar com a variação da moeda norte-americana.
E com a queda do consumo por parte da população, os negócios não possuem condições de sobreviver. O dólar em alta faz com que o governo tenha ainda mais dificuldades de manter o real estabilizado, inclusive em relação aos seus próprios vizinhos sul-americanos.
Qual Foi a Empresa Que Mais se Endividou em Dólar?
A Petrobrás possui grande parte de seu endividamento em dólar.
De acordo com a financeira Economática ,das empresas de capital aberto, a petroleira brasileira viu sua dívida atingir R$ 449 bilhões. Esse valor é 28% superior ao registrado em dezembro do ano passado.
Todavia, com medidas com a captação de moeda estrangeira no exterior, a empresa conseguiu reduzir sua dívida em dólar em US$ 9 bilhões, chegando hoje ao valor de US$ 66 bilhões.
O cálculo de abatimento do saldo devedor tem como base a dívida registrada em dezembro de 2019. A intenção da Petrobras é que esse valor chegue futuramente a US$ 60 bilhões.