Justamente em meio à pandemia do coronavírus (Covid-19), o Brasil se viu no meio da disputa entre o presidente da República, Jair Bolsonaro, e o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Não à toa, os desacertos entre as partes deixou o país como uma nau sem rumo, sem saber quais medidas de fato seriam tomadas para o controle da doença, que culminaram na demissão do chefe da Pasta.
Abaixo, vamos fazer uma linha do tempo para você entender melhor os desencontros que levaram à demissão de Mandetta.
26 de fevereiro
O ministro da Saúde anunciou o primeiro caso de coronavírus no Brasil. “É uma gripe, mas uma gripe que vamos atravessar”, disse Mandetta. Após o discurso, o chefe da Pasta decretou situação de emergência nacional.
27 de fevereiro
Ao ver o dólar bater seu recorde nominal, chegando a R$ 4,477, Bolsonaro culpou o coronavírus: “Estamos tendo problemas nesse vírus, o coronavírus. O mundo todo está sofrendo”, declarou o Chefe de Estado
10 de março
Porém, pouco menos de duas semanas depois, Bolsonaro minimizou a crise global durante uma viagem aos Estados Unidos. “Obviamente, temos, no momento, uma crise, uma pequena crise. No meu entender, muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propala ou propaga pelo mundo todo”, declarou à época o presidente.
11 de março
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declara pandemia pelo coronavírus. Mandetta afirma que a entidade demorou para adotar a medida, mas deixa nas mãos dos Estados seguir ou não as orientações de circulação de pessoas. Bolsonaro, por sua vez, afirma que ligaria para o ministro, pois queria saber se a gripe era “tudo aquilo”, o que rechaçava.
12 de março
Bolsonaro e Mandetta aparecem de máscara em uma live. E pede que seus seguidores “repensem” as manifestações contra Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF).
13 de março
Mandetta participa de live com o governador de São Paulo, João Doria, o que não digerido bem por Bolsonaro, que vê no chefe do executivo paulista um potencial adversário para 2022.
15 de março
Bolsonaro contraria sua própria recomendação, a da OMS e de seu ministro e participa das manifestações em Brasília, chamando de “extremismo” e “histeria” as medidas adotadas para controlar a pandemia. Ele, inclusive, questiona a paralisação do futebol. Mandetta, por sua vez, se limita a dizer que era para o presidente ter evitado aglomerações. “É ilegal? Não. Mas a orientação é não. E continua sendo não para todo mundo. Todo mundo tem que fazer sua parte”. O chefe do Executivo, como não deixaria de ser, fica irritado.
17 de março
Bolsonaro volta a chamar de “histeria” a pandemia e tenta diminuir a força do Ministério da Saúde, nomeando o chefe da Casa Civil, Walter Braga Neto, para coordenar o comitê de crise. Mandetta, por sua vez, diz que o Brasil teria o pico de mortes entre 60 e 90 dias e que medidas restritivas de circulação deveriam ser adotadas.
18 de março
Pela primeira vez, em entrevista coletiva concedida ao lado de Mandetta, Bolsonaro reconhece a gravidade da crise, mas ainda mantém a palavra “histeria” em seu discurso, afirmando que deve ser evitada. “Já tivemos problemas mais graves no passado que não tiveram essa comoção toda, repercussão toda, por parte da mídia brasileira. O momento agora é de união de todos, de reflexão, de buscar soluções. A verdade está aí. É uma questão grave, mas não podemos entrar no campo da histeria”, declarou.
20 de março
Em nova coletiva ao lado de Bolsonaro, Mandetta reforça a importância do distanciamento social. Durante a conversa, o ministro afirmou, ainda, que o sistema de saúde entrará em colapso no final de abril.
21 de março
Bolsonaro afirma, pela primeira vez publicamente, que Mandetta havia exagerado no controle do coronavírus. “O Mandetta, num primeiro momento, eu estava achando que ele estava exagerando. Tanto é que ele foi bastante questionado ontem quando falou uma palavra que não era adequada para aquele momento, foi o colapso, e ele explicou perfeitamente. É isso apenas que tenho conversado com ele, acertando os ponteiros”, afirmou.
22 de março
Bolsonaro culpa a imprensa e os governadores pela crise.
23 de março
Após as críticas aos governadores, Bolsonaro volta atrás e faz videoconferências com Estados, anunciando medidas para enfrentamento da pandemia e apresentando a necessidade de união entre todas as partes.
24 de março
Bolsonaro elogia Mandetta em pronunciamento em rede nacional. O presidente, porém, contradiz a OMS, a comunidade médica e as autoridades sanitárias. Desta vez, usa as palavras “gripezinha” e “histeria” para minimizar os efeitos do coronavírus.
25 de março
Bolsonaro, em entrevista aos jornalistas, anuncia que iria pedir que Mandetta adotasse o isolamento vertical, ou seja, somente de pessoas dos grupos de risco. O ministro da Saúde, por sua vez, pela primeira vez comenta sobre uma possível demissão, afirmando que só sairia se o presidente achasse necessário.
28 de março
Mandetta pede a Bolsonaro, em reunião no Palácio da Alvorada, que o presidente não diminua a gravidade da pandemia. O ministro enfatiza que não apoiaria o isolamento vertical e critica quem pede a retomada de atividades.
29 de março
O presidente sai às ruas e conversa com populares.
30 de março
Bolsonaro passa a centralizar as entrevistas coletivas diárias dadas pelo ministério da Saúde para trazer informações sobre o coronavírus.
2 de abril
Bolsonaro admite que tem divergências com o ministro da Saúde e diz que falta humildade a Mandetta, que deveria ouvi-lo mais. O chefe da Pasta, por sua vez, janta com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que recusaram se encontrar com o presidente naquela data.
3 de abril
Mandetta diz que “médico não abandona seu paciente” ao comentar as críticas de Bolsonaro.
5 de abril
Bolsonaro grava vídeo em frente ao Palácio da Alvorada em que diz que algo subiu a cabeça dos integrantes do seu governo. Porém, ao falar sobre demissões, dirige-se no singular: “A hora dele não chegou ainda, mas vai chegar. A minha caneta funciona”.
6 de abril
Com apoio da ala militar, do Legislativo e do Judiciário, Mandetta é mantido no cargo. Após reunião, ao encontrar sua equipe, o ministro é aplaudido de pé e diz que continuará no cargo. “Vamos enfrentar nosso inimigo. Nosso inimigo tem nome e sobrenome: Covid-19”, disse.
8 de abril
Bolsonaro anuncia que o governo irá importar insumos para produzir hidroxicloroquina, apesar de o Ministério da Saúde ter dúvidas sobre sua eficiência e seu risco.
9 de abril
Bolsonaro volta a violar normas do Ministério da Saúde, abraçando apoiadores e ouvindo vaias enquanto ia a uma padaria.
11 de abril
Bolsonaro volta a ignorar as normas e visita a obra de um hospital de campanha em Águas Lindas de Goiás, no Goiás.
12 de abril
Mandetta concede entrevista ao Fantástico afirmando que o governo federal deveria ter “uma fala única” no combate à pandemia e que o “brasileiro não sabe se escuta o ministro ou o presidente”. A conversa é considerada o estopim para sua demissão
14 de abril
Mandetta perde o apoio da ala militar do governo e reconhece a pessoas próximas que dificilmente permaneceria no cargo.
15 de abril
Bolsonaro diz, em entrevista, que irá resolver “a questão da Saúde” para “tocar o barco”. À tarde, Mandetta dá coletiva em tom de despedida. Depois, à revista Veja, declara que estava há 60 dias nessa batalha: “Isso cansa! Sessenta dias tendo de medir palavras. Você conversa hoje, a pessoa entende, diz que concorda, depois muda de ideia e fala tudo diferente. Você vai, conversa, parece que está tudo acertado e, em seguida, o camarada muda o discurso de novo. Já chega, né? Já ajudamos bastante”, declara.
16 de abril
Bolsonaro demite Mandetta. Para seu lugar, chama o oncologista Nelson Teich.