Com um cenário de reduções progressivas na taxa básica de juros nos últimos anos, o número de investidores pessoa física no mercado brasileiro de capitais saltou de 557 mil pessoas, há cinco anos, para 2,82 milhões, em julho, de acordo com dados mais recentes da B3. Nesse intervalo, a XP Inc. foi a empresa que melhor soube tirar proveito desta situação. Hoje, a empresa está avaliada em US$ 23,4 bilhões, depois de abrir capital na Nasdaq, no fim de 2019, e tem 2,3 milhões de clientes, além de R$ 460 bilhões sob custódia. Apesar disso, a disputa pelo dinheiro dos investidores que estão indo à Bolsa brasileira está ganhando cada vez mais concorrentes.
No movimento mais recente dessa competição acirrada, o Santander anunciou, nesta terça-feira (29), a compra de 60% da Toro Investimentos, corretora online que será integrada à Pi, plataforma aberta de investimentos, lançada pelo banco em março de 2019. Pelos termos do acordo, que está sujeito à aprovação dos órgãos regulatórios, a Toro deverá ser a marca remanescente da nova operação. A transação envolverá a compra de ações, aumento de capital e aporte de ativos operacionais da Pi.
O CEO da Toro, Gabriel Kallas, manterá a posição na nova empresa. Já José Clemenceau, CEO da Pi, assumirá o posto de diretor de operações. Segundo Alberto Monteiro, vice-presidente executivo de Wealth Management do Santander, Toro e Pi são duas “legítimas representantes da mais nova geração de plataformas de investimento”. “Ambas são catalisadoras da desintermediação e democratização de produtos antes reservados a clientes com mais recursos”, afirmou o executivo, em comunicado sobre o acordo. “Juntas, elas serão protagonistas deste novo momento do mercado brasileiro”, complementa Monteiro.
No comunicado, o Santander acrescentou que a nova empresa irá se beneficiar da infraestrutura tecnológica da Toro. E contará com o modelo de atuação B2B, desenvolvido pela Pi, para atuar junto a clientes como family offices, gestores e consultores de investimentos. À parte desses planos, a transação também abre caminho para que o portfólio do próprio Santander seja plugado na plataforma da nova operação, algo que hoje não acontece com a Pi.
O que é a Pi?
A Pi, que foi lançada em março de 2019 pelo Santander como uma plataforma aberta de investimentos 100% digital, conta com uma oferta que inclui mais de 240 produtos de renda fixa.
O que é a Toro?
A Toro, por sua vez, foi criada em 2010, em Belo Horizonte. Há dois anos, passou a atuar na intermediação de transações de valores mobiliários. Nos últimos cinco meses, saltou da 20ª para a 12ª posição na B3 em volume de negócios. A companhia tem entre seus investidores três fundadores da Localiza: os irmãos Flávio e Antônio Cláudio Brandão Resende, e Eugênio Mattar, que também atua como CEO da empresa de aluguel de carros.
Aumento em investimentos neste setor
O anúncio de hoje segue uma agenda, recente e cada vez mais intensa, de investimentos e estratégias nesse mercado de crescimento exponencial, sejam elas promovidas por nomes mais tradicionais ou por bancos digitais e fintechs que ganharam escala no setor financeiro nos últimos anos.
É o caso do Nubank, por exemplo, que, há pouco mais de duas semanas, entrou de vez nessa guerra com a compra da Easynvest, plataforma de investimentos com 1,5 milhão de clientes e cerca de R$ 23 bilhões sob custódia.
Em agosto, a Avenue Securities, fintech dona de uma plataforma para facilitar o acesso de investidores latino-americanos às bolsas americanas, desembarcou no Brasil e engrossou a competição nesse espaço, com a compra da corretora Coin DTVM.
Um mês antes, o Neon, capitalizado com um aporte de R$ 1,6 bilhão, também se movimentou para entrar nessa briga, com a aquisição da Magliano, a mais antiga corretora do País, de olho em clientes da Classe C e na oferta de investimentos de menor risco.
Outro player, o Banco Inter, também vem reforçando sua atuação no segmento, com sua plataforma PAI, que conta com uma base de cerca de 700 mil investidores e R$ 26 bilhões sob custódia.
Tradicionais não ficam para trás
Os gigantes do setor não estão assistindo parados a essa movimentação. No fim de 2019, o Bradesco relançou a Ágora, sua corretora, com a inclusão de investimentos de outras casas, entre outras novidades. E, na última semana, uma nota do Goldman Sachs informou que o banco planeja separar e listar a operação em bolsa. Hoje, a Ágora tem 500 mil clientes e R$ 65 bilhões sob custódia.
O BTG Pactual é mais um disposto a desafiar o domínio da XP. Para isso, o banco tem investido justamente no modelo consagrado pela companhia. No início desta semana, o BTG comprou a Lifetime Investimentos, escritório de agentes autônomo de investimentos que gerencia cerca de R$ 2 bilhões, tem quatro mil clientes e era associado a XP, assim como a EQI, incorporada em julho.
Até mesmo o próprio sócio da XP, Itaú Unibanco, vem adotando uma postura mais agressiva nesse espaço, o que foi expresso na troca de farpas recente entre as duas empresas. O Credit Suisse também ampliou sua aposta, ao comprar, em junho, uma fatia de 35% do banco digital Modalmais. “BTG Pactual, Bradesco e Credit Suisse têm mais condições de desafiar o domínio da XP”, afirma uma fonte do mercado, que preferiu não se identificar. “Essas empresas está à frente das novas plataformas, pois têm conhecimento e histórico de operações em Bolsa, acesso a recursos e capital humano”, acredita a fonte.
Corretoras independentes
Também é importante ficar atento a algumas corretoras independentes, que, no momento, correm por fora nessa batalha e que, mesmo capitalizadas, podem virar alvo de aquisições. Um dos exemplos é a Warren, que, em julho, recebeu um aporte de R$ 120 milhões liderado pelo fundo QED Investors. Na época, a Warren informou que contava com R$ 2 bilhões de ativos sob custódia e 130 mil clientes.
A fintech Magnetis é mais uma empresa que reforçou seu caixa recentemente. Também em julho, a companhia captou R$ 60 milhões em um aporte liderado pela Redpoint eventures. Com o montante, a plataforma de investimentos lançou sua própria corretora.
Fundada em 2018, a Vitreo é outro nome nesse front. Com 70 mil clientes e R$ 6,2 bilhões sob gestão, a empresa tem entre seus controladores os empresários Paulo Lemann, Patrick O´Grady, Sérgio Campos e Alexandre Aoude. E, em sua mais nova tacada, está ingressando no segmento de gestão de fortunas.